Então, percebeu que se não mudasse agora, exatamente agora estava pra sempre condenada à morte. A morte de si mesma, dos próprios sonhos e ideais, da própria identidade. Isto era a pior coisa que poderia acontecer a um ser humano, porque isto era morrer aos poucos, cada dia até que sucumbisse de vez diante do veredito final: o dia do seu fim, da sua morte propriamente dita.
Morrer aos poucos era muito pior que morrer de vez. Ver-se transformado num morto vivo, num cadáver ambulante em decomposição, certamente era o pior dos suplícios humanos. Bem, que Deus lhe desse força para mudar aquilo que ainda podia ser mudado. E agradeceria por ser jovem e ainda dispor de forças que lhe animavam a juventude. Pois para os já, então, mais velhos sem dúvida tudo se tornaria insuportavelmente mais difícil, o que não significa impossível. Mas seja como for melhor que as coisas rumassem enquanto forças ainda trazia... Enfim, que fizesse o que era melhor para si.
Talvez, um dos motivos para que tivesse se afastado fosse para que ela de alguma maneira o descobrisse. Assim como ele a descobriu, a encontrou. Ele ficaria ali, a sua espera, ansioso para que ela tivesse êxito em sua descoberta, e que enfim, ela lhe reconhecesse como o grande amor de sua vida.
Ainda que demorasse dias, semanas, ou anos, ainda assim ele seria capaz de esperá-la, porque seu amor por ela era infinito, e apenas ele era capaz de justificar seus dias nessa terra.
(manuscrito de 19.09.2012)